JA Híbrido!!!
Jornal dos Arquitectos 220/221


Confesso que nunca fui muito adepto do anterior J-A, sempre me incomodaram pequenos aspectos como: a textura do papel, as cores pastéis, as capas com padrões poppsicadélicos, ou até mesmo algum do grafismo, sempre o senti na sua aparência um pouco extemporâneo.

Não deixo de querer evidênciar a qualidade inegável dos seus conteúdos investidos e pelo excelente corpo editorial que sempre o representou.

Qual a minha opinião acerca do novo JA?

1.Interessaram-me logo à partida o trabalho de Daniel Malhão - a foto da capa - belíssima e intrigrante, bem adaptada ao motivo do número, assim também como os excelentes artigos de Pedro Cortesão Monteiro em ‘Quando os objectos colidem’ [o meu eleito!] e Pedro Bandeira em ‘No Inverno sou budista, no Verão sou nudista’ - perspicazes , argutos, joviais e sintécticos no destrinçar do tema central, linkando óptimas referências num des-hibridar bem humorado, sensível e apurado.

2.O que me perturbou verdadeiramente, foi sentir que a secção apresentada de ‘PROJECTOS’ não tivesse justificado o potêncial do tema proposto na edição - HÍBRIDO - surgem projectos um pouco reticentes no ajuste transversal ao tema e pouco exploratórios na teorização da arquitectura, derivando a meu entender, como que numa apresentação destes um pouco autónoma em conteúdo.

Induzi, portanto, algum impasse quanto à vontade de se definir o peso justo do corpo ‘PROJECTOS’ para esta edição, acabando este por competir com um relevante e possante corpo ‘CRÍTICA’ e agora estruturantes secções ‘PERSONA’ e ‘DOSSIER FOTOGRÁFICO’ inexistentes na reformada edição.

3.Nota positiva para o projecto ‘VÍRUS’ deixando a própria edição hibridificar-se com a inclusão de uma pequena outra edição livre (a concurso), sinónimo de auto-desafio ao próprio corpo editorial expressando deste modo uma postura ‘open minded’ louvável.

4.O trabalho gráfico de Pedro Falcão assumiu uma outra identidade, não tanto de fractura para com o passado como se desejaria, mas desenvolvendo uma outra tactilidade e outro poder de comunicação de grande apuro visual.

5.Pegando no último desejo expresso pela equipa do anterior J-A em ‘ANTHOLOGY 01’ - ‘...(que este) estend(a) o seu propósito de debate a outros países e culturas, alargando-a também, então, o seu leque de colaboradores e leitores.’ - ou seja, de tornar a versão (mínimo) bilíngue e expandi-la de modo a ganhar um corpo intrínseco nas suas qualidades críticas para um universo hiper-globalizado, evitando a infeliz resolução de ‘ABSTRACTS’. Sendo sempre preferível a opção de tradução integral de alguns artigos que se julgue mais importantes, ou mesmo de tradução total (de bom senso contextual).

6.Espero que ‘live fast, dye young and leave a beautiful corpse’ não induza o género deste novo JA, assim como Paulo Furtado comentava em entrevista com Mário Lopes no Público (Suplemento Y - 23/12/05) acerca de sua carreira...


*Editado em Dezembro de 2005 no blog http:/a-significado.blogspot.com