Projecto RUA / Ilha de Faro
Será que a arquitectura corresponde verdadeiramente às premissas de auto-sustentabilidade que auguramos?

'The military - industrial complex began with the Arsenale in Venice, the place where Galileo demonstrated his telescope, not for looking at the moon, as is said, but to see the enemy as soon as possible: a telescope is a machine of optical speed - by bringing perception closer, it accelerates contact.' *

Paul Virilio tem vindo a insistir em suas teses e documentos que o acesso à velocidade de informação é a nova expressão de poder, consubstanciando-se em análises naquilo que apelida por 'monumentos negativos' e sobretudo na interpretação de conflitos bélicos. A dromologia (dromos - em grego velocidade) delegar-nos-á novas aproximações à escala planetária e por conseguinte reposicioar-nos-á relativamente aos valores clássicos da arquitectura e da paisagem.




'Let's imagine an island now, that flies and carries 1,000 people for a euro. Do you agree to travel on it? I thing that you would. But an island that carries - the figure is simbolic - 6 million people for 10 cents? There, you no longer agree. Whats happened? A refusal of consent. It's a complex moment but historic, too. Because if we agree, we justify. All that so you can move around for 10 cents? In some way we find ourselves dealing with the question of good and evil. At the moment when it becames aesthetic, we are in the logistic of ethics. Philosophical geostrategy; moral astrophisycs; and we came back to Stephen Hawking. Amen! The question is back, not in a sense of original sin - flesh, etc - but in the sense of sin of knowledge: fatal knowledge. That's were we are.This isn't tomorrow, but now. It's the news from Dr. Strangelove!' *

Na proposta do atelier Rua para o Concurso para a Requalificação da Ilha de Faro** estes apresentam uma estratégia linear e clara de apropriação de um elemento fundador da própria expansão da ilha - um muro de contenção - para através dessa cota elevada elaborar um percurso de acesso a toda a ilha e no espessamento desse muro resolver todo o programa necessário à logística da proposta.
Esta ilha, historicamente de cariz piscatório, sofreu um violento crescimento nos últimos 50 anos, devido a uma procura crescente na época balnear. Este factor veio determinar amplitudes de utilização turística da ilha intensíssimas no decorrer do Verão e uma desertificação quase total nos restantes períodos do ano. A proposta prossegue desenvolvendo-se por 3 hipotéticas fases ao longo do tempo - agora, daqui a 50 anos e daqui a 100 anos.

Numa primeira fase a intervenção centra-se na capacitação deste muro de contenção, enquanto infraestrutura vital para a ilha. Nas fases seguintes, através de conseguintes demolições e pequenas reorganizações programáticas assiste-se à proposição de uma desertificação da própria ilha e da renaturalização total do delicado sistema dunar único neste tipo de ecossistema.
Podemos observar que a antevisão do projecto ao vencer o próprio tempo é quase que autofágica. Como que numa nota crítica que a arquitectura não conseguirá corresponder a tudo aquilo que auguramos para um seu futuro, enquanto seres consumidores e ao mesmo tempo conservadores da própria paisagem. Esta leitura óptica a alta velocidade, isto em discurso Viriliano, sobre as possibilidades de desenvoltura da ilha enquanto elemento coerente na sua lógica ecológica e sustentável apenas poderia subsistir sob esta demanda - de um princípio de desertificação - ou pelo menos numa retirada estratégica dos seus elementos 'destrutivos', que teêm avançado descriteriosamente sobre esta pequena ilha dunar.
Na minha opinião, o factor de intemporalidade por vezes é extenuado no exercício da arquitectura. A provocadora proposta de desertificação deste atelier atenta-nos a um tipo de operação acutilante, mas exemplar, que nem sempre poderá prever uma estratégia tão simplificada, mas talvez necessária à defesa de um diálogo contínuo entre a actuação do homem e uma paisagem cultural em contínua evolução e mutação...
'Today it's the cinematic the energy of the visible: film is even more beautiful because it passes and disapears. The illusion of movement creates hapiness. The aesthetics of extinction and disapearence has won out over the aesthetic of appearence.' *

*Excertos de entrevista 'Rock around the Bunker' da revista DAMN nº21 
**Proposta do atelier Rua classificada em 3º Lugar.